Um novo modelo de negócio para extração de ouro no Amazonas - Geoprime - Engenharia e Meio Ambiente

Um novo modelo de negócio para extração de ouro no Amazonas

Francisco Alves

Compartilhamento de recursos e trabalho. Esta foi a maneira diferente de empreender projetos de mineração na Amazônia encontrada pelo jovem empresário Daniel Geyerhahn, diretor da Goldmen Group, que está viabilizando o aproveitamento de depósitos de ouro no sul do estado do Amazonas, mas especificamente nos municípios de Borba, Novo Aripuanã e Apuí, onde a empresa detém direitos de minerários numa área que soma 48 mil hectares.

Advindo do mercado financeiro, o empresário ingressou na mineração em 2012, quando surgiu a oportunidade de adquirir uma área de ouro no Amazonas. Com a possibilidade, ele deixou o conforto da grande cidade para se embrenhar na Amazônia, a fim de conhecer a área que havia adquirido.

Fui para ficar 15 dias e fiquei quatro meses, três dos quais dentro da floresta.

Quando chegou na área, no entanto, verificou que havia um grupo de aproximadamente 30 garimpeiros trabalhando lá.

Num primeiro momento ficamos pensando no que fazer com aquele pessoal: se recorríamos à segurança ou entrávamos sozinhos na área.

Porém, como havia o risco de conflito, porque possivelmente os garimpeiros estaria, armados, ele decidiu partir para o diálogo: buscou alguém na cidade que conhecesse os garimpeiros para ajudar nas conversações.

Chegamos, falamos que éramos donos da área, conversamos com o pessoal e conseguimos a desocupação amigável da área.

Nesse meio tempo, ele contratou um profissional mateiro para ajudá-lo a percorrer a área. Ficou durante o período se deslocando por trilhas e de barco, pegando os pontos de amarração da área com o GPS. Nos locais onde paravam, o seu contratado bateava, mostrando que havia ouro.

Quando voltou a Belo Horizonte – sede da empresa – e foi passar os dados para o computador, verificou que mais da metade dos pontos de amarração estavam fora da área que ele havia adquirido. Mas, por sorte, tratavam-se de áreas livres.

Junto com o nosso sócio, Bernardo Calazans, da Calazans & Rossi Advogados Associados, já tínhamos a ideia de fazer um projeto voltado para o desenvolvimento de áreas, porque naquela época – havia um boom na mineração – tinha muita gente que queria vender área – mas sem informação nenhuma. Simplesmente requeria e queria vender. E nossa ideia era montar uma equipe para trabalhar essas áreas no risco: avaliar e entrar fazendo todo o trabalho de pesquisa, plano de negócio e tudo o mais.

Assim, quando voltou de viagem Daniel decidiu, juntamente com seu sócio, não mais adquirir áreas de terceiros, já que havia áreas livres para requerer. Então criaram a Goldmen aliança constituída por Daniel, Bernardo e Calazans & Rossi Advogados Associados.

A partir daí a empresa começou a efetivamente desenvolver a estratégia de buscar parceiros. Naquela época, devido às incertezas geradas pela proposta do novo marco regulatório, havia muita dificuldade em atrair investidores, porque ninguém queria entrar num jogo com a possibilidade de mudança de regra.

Então perguntamos: como vamos fazer o negócio andar sem capital? Como o nosso sócio, Dr. Eugênio Calazans, tinha mais de 30 anos de experiência em mineração, através dele começamos a buscar empresas no setor que pudessem se unir conosco, juntar forças e que evidentemente tivessem algum potencial estratégico para fazer com o projeto andasse.

A primeira a entrar no empreendimento foi a Geoprime Engenharia e Meio Ambiente, uma empresa do Rio de Janeiro, que ingressou fazendo a parte documental dos alvarás, o acompanhamento dos processos junto ao DNPM e a parte ambiental. Em seguida veio a Sólida, da área de Engenharia e Gestão, que tem um forte know-how e que possuía equipe em Manaus.

A princípio foram três alvarás de pesquisa e 12 PLGs (Permissões de Lavra Garimpeiras) e depois mais 5 alvarás de pesquisa e mais 12 PLGs.

Com o apoio da área técnica, começaram a avaliar as áreas, buscando dados na CPRM e adquirindo dados de geofísica da região. A primeira avaliação indiciou que a área tinha um potencial muito grande, que se confirmou com a entrada da BBX, empresa Australiana, listada na ASX, que tem áreas vizinhas às da Goldmen, com cinco alvarás de pesquisa.

A BBX já havia manifestado interesse em explorar um bloco de áreas e nós vínhamos conversando, até que o casamento aconteceu, observa Daniel.

Pelo modelo de negócio definido, sócios entram aportando serviços na forma de capital.

Um outro ponto destacado por Daniel, ao longo do desenvolvimento do projeto, é o compromisso e colaboração mútua de todos os envolvidos e das pessoas amigas, como Jorge Raggi, diretor da Geoeconômica, que como expert sempre tem algo importante a aconselhar.

Agilização dos procedimentos

A decisão de iniciar os trabalhos de exploração na área através de PLGs, conforme o empresário, deve-se à necessidade de maior agilização nos procedimentos, já que a PLG não pressupõe a apresentação de relatório parcial de pesquisa. Faz-se o requerimento, entra-se com o pedido de licença no órgão ambiental e, uma vez concedida a Licença no órgão ambiental e, uma vez concedida a Licença de Operação, esta é apresentada ao DNPM, que concede a Permissão de Lavra. É muito mais rápido e menos burocrático, embora tenha a limitação, porque cada GLP só pode abranger uma área de 50 hectares.

Com isso, o que nós queríamos? Gerar uma vitrine para o projeto, porque consideramos que é mais fácil conseguir investimento para um empreendimento que já está produzindo do que ter apenas dados num papel. E a estratégia foi justamente essa: fazer um bloco de PLGs dentro de cada alvará de pesquisa e dentro desse bloco atrair parceiros. Esse bloco vai gerar informações de produção”, afirma Daniel, acrescentando que a estratégia até agora tem dado certo.

Embora o projeto ainda esteja no início, os relatórios parciais de pesquisa das primeiras áreas já foram entregues e foi solicitada renovação, para mais dois anos.

Nas áreas de PLG, já foram feitos testes e a previsão é que até dezembro de 2015 seja instalada uma pequena planta piloto, juntamente com a BBX. É uma planta que deve gerar uma produção de aproximadamente 12 kg de ouro por mês. Esta produção já supre a nossa necessidade de caixa para a pesquisa.

Na parte de infraestrutura, o diretor da Goldmen explica que estão sendo revitalizados 56 km de estrada ligando a área do projeto à Transamazônica. Como o trecho não era utilizado há muito tempo, a empresa entrou com o pedido para fazer a revitalização, como parte das licenças ambientais.

Em termos de energia, serão utilizados geradores a diesel, embora estejam sendo estudadas algumas alternativas de energia renovável, mais para adiante.

Na parceria com a BBX eles vão investir na planta e nós dividiremos o investimento na operação, além do que já investimos na área. Então é entrar para dividir, sem dar o passo maior que a perna. Se a parceria numa PLG for interessante, mostrar resultados para o parceiro e eles mostrando que têm um potencial para continuar, por que não talvez dividir também o custo de pesquisa, já que ele está vendo que tem ali uma produção? Isto está aberto, opina Daniel,explicando que hoje a Goldmen está com dois blocos de área, da mesma forma que fez com a BBX, em aberto para a entrada de outros parceiros.

Para a BBX nós selecionamos um bloco só, até porque queremos ver se a parceria vai dar certo.

De acordo com o dirigente da Goldmen, a empresa não quis trilhar o caminho percorrido por outras, que lançaram ações nas bolsas canadense e australianas para bancar os trabalhos de exploração. Ao invés disso, preferiu começar a produzir, mesmo que em escala pequena, para gerar caixa, informações, e depois buscar quem pretenda fazer investimento no projeto como um todo.

Se fôssemos fazer hoje o investimento em pesquisa no projeto como um todo, como são 48 mil hectares, na Amazônia, o valor seria muito alto. Entendemos que dinheiro não aceita desaforo, então as coisas têm que ser feitas dessa forma. Mas estamos abertos a parceiros que possam vir agregar valor ao negócio para ganhar conosco lá na frente, argumenta Daniel.

Potencial da área

A área sob controle do Goldmen Group é considerada de grande potencial para mineralizações secundárias e primárias de ouro. Uma pequena parte (0,01% do total), foi minerada anteriormente por terceiros, a uma profundidade d 1,5m.

Em média, os registros da região indicam uma produção mínima de 120 gramas de ouro por corpo mineralizado de 10 x 10 x 0,3 m, indicando teores recuperados de 4 gramas por metro cúbico nestes corpos.

De acordo com Daniel, a pesquisa mineral está sendo iniciada pela mineralização secundária, evoluindo depois para a primária, e utiliza como metodologias os levantamentos geofísicos, mapeamento geológico-estrutural, coleta de amostras em sedimentos de corrente, geoquímica de solos, sondagem com amostragem testemunhada, abertura de trincheira, ensaios laboratoriais e teste em planta piloto.

Como já mencionada, até dezembro próximo a empresa deverá instalar a planta piloto com a capacidade de 08 metros cúbicos/hora e recuperação mínima de 75%, composta de trommel com capacidade de 10 a 15 toneladas, peneira duplo deck com telas de 8 e 1mm, jigues de câmara dupla, ciclone de 4 polegadas e mesa vibratória.

Referência bibliográfica:

BRASIL MINERAL - nº 355 – Outubro de 2015

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